terça-feira, 27 de março de 2007

Iniciando o returno...

Campinense 2 X 2 Auto Esporte. 25 de março de 2007.

Pouco me interessa, como tantos, falar da falta de competência dos atacantes do Campinense Clube, daquela quase impossível capacidade de acertar todos os pontos imagináveis da linha de fundo, descobrindo até alguns há muito tempo não apreciados pela passagem de uma bola em disparada. E é exatamente em disparada, como carros que fogem envolvidos pelo pavor de um atropelamento recente, que a bola parte tão logo arrematada por qualquer um dos atacantes do clube. Diogo, Telles, Stênio ou Júnior Ferrim, todos parecem tão fadados ao erro que mesmo quando acertam não inspiram qualquer credulidade. A inegável má fase pela qual passa o ataque do clube conseguiu fazer do gol um acidente repleto de detalhes fantasiosos, chegando às raias do feérico. Uma eventual meia dúzia de gols contra a Perilima não será capaz de fazer passar esta impressão que torna cada vez mais longo o espaço do tempo entre o choque da bola com a rede e o grito do torcedor. Os raposeiros não acreditam mais no gol. Este toma ares de seqüestro: só acontece com os outros.

(Paro aqui. Para quem começou uma crônica dizendo que não se falaria no assunto, não obtive muito sucesso. É a voz de torcedor que desperta estas contradições que fazem do primeiro parágrafo de um texto que se propõe um elogio, tal comentário desapontado sobre a principal deficiência atual do time, de uma obviedade que me envergonha um pouco.)

Na partida de domingo diante do Auto Esporte, o que mais me chamou a atenção foi a presença em campo de uma peça fundamental e cuja ausência talvez explique os fiascos do Campinense tanto na partida de volta da Copa do Brasil contra o Sport de Recife quanto diante do Sousa pelas semifinais do primeiro turno do Campeonato Paraibano: o bom meia. Lulinha e seu toque de bola se sobressaem diante da evidente falta de técnica dos jogadores que o circundam. Mesmo um par pavoroso de passes dados em um momento qualquer do segundo tempo são incapazes de fazer-nos deixar de pensar que ele joga um jogo à parte. Enquanto os demais – ao menos aqueles dignos de nota – se matam, suam, brigam, e só depois vão tratar da bola, Lulinha carrega-a com a calma de quem parece saber exatamente o que fazer, e possui as ferramentas técnicas para tanto.

A raridade de um jogador com tais características é tão patente que ao se tentar puxar pela memória alguém no passado recente do clube que as compartilhe o único nome que vem sem dificuldade é justamente o do saudoso Rodrigo Tabata. Óbvio que a elegância de Lulinha ainda não possui o garbo amplamente enérgico de Tabata, nem suas finalizações se aproximam da exatidão quase mágica daquele, mas há algo no seu porte, na sua inteligência prática, e na capacidade de simplificar situações aparentemente insolúveis, que remetem ao último grande ídolo do Campinense Clube. Fica a sensação de que Lulinha não só faz lembrar de um passado glorioso – mais ainda por ter sido frustrado da forma que foi – mas é capaz também de esboçar um futuro menos tortuoso.

José Roberto Rocha Filho

segunda-feira, 26 de março de 2007

Apresentação...

Este blog foi criado com o intuito de expor crônicas esportivas referentes ao campeonato paraibano de futebol, e às participações dos times locais em outras competições. A paixão pela crônica esportiva é recente, quase de ontem, mas ela parece estar em mim há muito mais tempo, antes mesmo que eu nascesse. Escondida há meio século entre as palavras batidas em máquina e assinadas por gente como Nelson Rodrigues e Mário Filho. Perto deles, o jornalismo esportivo atual, o paraibano em especial, é um deserto onde não corre o menor sopro de vento. Este blog e as crônicas eventualmente publicadas nele são uma tentativa de arejar esta realidade a partir dos sonhos vividos nos estádios, em frente a televisão, ou prostrado no desespero que só entendem aqueles que escutam os jogos em um rádio de pilha.

Que não se espere imparcialidade. Os textos normalmente gravitarão em torno do meu time, o Campinense Clube, no ritmo de ao menos um por semana. Um por rodada seria o ideal, mas jornalismo guerrilheiro tem que se sustentar de alguma forma que não o próprio jornalismo. Por coisas assim sempre mantive com a quase totalidade da imprensa escrita local - galeria de museu repleta de múmias preservadas e imersas na mais pura auto-indulgência - uma relação em que o asco só é comparável a dolorida inveja pelo simples fato deles ganharem para escrever. Imaginem só, ganhar para escrever! Isto sempre me causou espanto. Por vezes eu me imagino mumificado, também, em uma redação qualquer. Tal desejo dura apenas o tempo do abrir de páginas de um jornal qualquer e a leitura das colunas esportivas semanais. O que fica depois disso é apenas a boba incompreensão, e por vezes a raiva declarada, de um nostálgico de um tempo que nunca viveu. Aquele do jornalismo romântico que talvez nem sequer tenha existido de verdade, ou mesmo de mentira.

Esta página não é uma tentativa de recuperá-lo - sonhos não se recuperam, sonhos se sonham -, mas apenas o esforço de apresentar uma alternativa diante do panorama atual das coisas. Espero que vocês leiam e comentem sempre que possível.