segunda-feira, 2 de abril de 2007

Segunda e terceira rodadas...

Campinense 5 X 1 Perilima. 28 de março de 2007.
Atlético de Cajazeiras 1 X 0 Campinense. 01 de abril de 2007.

Desnecessário dizer que uma vitória tranquila contra a Perilima tem tanta importância para indicar o estado do Campinense quanto uma fratura exposta é um bom indicativo de felicidade. Confrontos como este, desprovidos de qualquer interesse geral, se arrastam dolorosamente em meio a um marasmo quase palpável. Mas, às vezes, em partidas assim, um momento aparentemente banal se transfigura em um desses milagres futebolísticos que só parecem existir para presentear a persistência daqueles que saem de casa numa quarta a noite, depois de um longo dia de trabalho, para acompanhar seu time, em crise, em um jogo cuja existência seria amplamente questionada caso os gols não fossem reprisados na televisão um dia depois. São intervalos de tempo inacreditáveis que brotam de um terreno onde só a mediocridade parecia ter espaço. Um gol plasticamente irretocável; um drible dilacerante; uma disputa de bola que toma ares épicos; um goleiro que salta contrariando Newton, a física, e, especialmente, uma bola tão vocacionada ao gol que parece chorar quando é espalmada para fora.

No jogo de quarta houve um pênalti apitado para a Perilima e quem se apresentou para batê-lo foi Seu Pedro, proprietário do time. Mantendo seu time a base dos ganhos de sua fábrica de bolachas, Seu Pedro me lembra todos que sonharam, quando crianças, em jogar futebol profissionalmente. Obviamente fora de forma, muitas vezes motivo de piadas ou simplesmente enxergado com uma pouco disfarçada condescendência, ele persiste sem parecer dar muita atenção a tudo isto. Por isso uma certa comoção disfarçada de galhofa tomou conta do Amigão quando ele se aproximou da área, nela entrou respeitosamente, e colocou a bola na marca. Tomando distância, Seu Pedro olhou para a meta, parou pouco antes do chute, deslocando Jaílson, e tocou calmamente para o canto direito do gol sem a menor chance de defesa. O sorriso estampado no seu rosto - sorriso de quem só agora marca seu primeiro gol como profissional - nos faz esquecer de que se trata de uma competição e de que seu time está sendo goleado. Naquela meia dúzia de segundos entre o choque da bola com a rede e a comemoração do gol, o importante parecia simplesmente poder jogar futebol. É como uma volta a infância, e ter sido ela proporcionada por um senhor de 57 anos metido em uma camisa que mal consegue conter sua barriga parece tornar a coisa mais surreal ainda. Eu diria mesmo, mágica.

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Mais complicado que tentar conter um sorriso bobo diante do feito de Seu Pedro, é entender como o Campinense pode perder, no returno, de um time no qual tinha metido 6 gols no primeiro turno. A falta de consistência da equipe se reflete bem na inexistência de uma escalação que traga confiança ao técnico Suélio Lacerda que simplesmente monta e desmonta o time sem conseguir encontrar algum tipo de fórmula que recupere o futebol apresentado pelo time no começo do campeonato. Falta motivação, falta poder de finalização, falta uma defesa segura, falta comprometimento político, e toda sorte de abstrações insondáveis que sempre se usam quando não há qualquer explicação lógica do que possa estar acontecendo com um time que parecia acertadíssimo e que agora se estilhaça a olhos vistos.

José Roberto Rocha Filho