segunda-feira, 7 de maio de 2007

Epílogo...

Aparte as desgraças seguidas que sepultaram tanto o ano do Campinense Clube quanto este blog, ao menos o Campeonato Paraibano me reservou uma efêmera e inegavelmente mesquinha satisfação agora em seu final. Treze eliminado, mais uma vez provando que capacitação financeira - e tudo de bom e de ruim que ela pode proporcionar dentro de um campeonato como o nosso - nada vale quando futebol parece um tema tão obscuro para os dirigentes quanto física quântica ou nanotecnologia.

No mais, parabéns ao Atlético de Cajazeiras e ao Nacional de Patos.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Segunda e terceira rodadas...

Campinense 5 X 1 Perilima. 28 de março de 2007.
Atlético de Cajazeiras 1 X 0 Campinense. 01 de abril de 2007.

Desnecessário dizer que uma vitória tranquila contra a Perilima tem tanta importância para indicar o estado do Campinense quanto uma fratura exposta é um bom indicativo de felicidade. Confrontos como este, desprovidos de qualquer interesse geral, se arrastam dolorosamente em meio a um marasmo quase palpável. Mas, às vezes, em partidas assim, um momento aparentemente banal se transfigura em um desses milagres futebolísticos que só parecem existir para presentear a persistência daqueles que saem de casa numa quarta a noite, depois de um longo dia de trabalho, para acompanhar seu time, em crise, em um jogo cuja existência seria amplamente questionada caso os gols não fossem reprisados na televisão um dia depois. São intervalos de tempo inacreditáveis que brotam de um terreno onde só a mediocridade parecia ter espaço. Um gol plasticamente irretocável; um drible dilacerante; uma disputa de bola que toma ares épicos; um goleiro que salta contrariando Newton, a física, e, especialmente, uma bola tão vocacionada ao gol que parece chorar quando é espalmada para fora.

No jogo de quarta houve um pênalti apitado para a Perilima e quem se apresentou para batê-lo foi Seu Pedro, proprietário do time. Mantendo seu time a base dos ganhos de sua fábrica de bolachas, Seu Pedro me lembra todos que sonharam, quando crianças, em jogar futebol profissionalmente. Obviamente fora de forma, muitas vezes motivo de piadas ou simplesmente enxergado com uma pouco disfarçada condescendência, ele persiste sem parecer dar muita atenção a tudo isto. Por isso uma certa comoção disfarçada de galhofa tomou conta do Amigão quando ele se aproximou da área, nela entrou respeitosamente, e colocou a bola na marca. Tomando distância, Seu Pedro olhou para a meta, parou pouco antes do chute, deslocando Jaílson, e tocou calmamente para o canto direito do gol sem a menor chance de defesa. O sorriso estampado no seu rosto - sorriso de quem só agora marca seu primeiro gol como profissional - nos faz esquecer de que se trata de uma competição e de que seu time está sendo goleado. Naquela meia dúzia de segundos entre o choque da bola com a rede e a comemoração do gol, o importante parecia simplesmente poder jogar futebol. É como uma volta a infância, e ter sido ela proporcionada por um senhor de 57 anos metido em uma camisa que mal consegue conter sua barriga parece tornar a coisa mais surreal ainda. Eu diria mesmo, mágica.

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Mais complicado que tentar conter um sorriso bobo diante do feito de Seu Pedro, é entender como o Campinense pode perder, no returno, de um time no qual tinha metido 6 gols no primeiro turno. A falta de consistência da equipe se reflete bem na inexistência de uma escalação que traga confiança ao técnico Suélio Lacerda que simplesmente monta e desmonta o time sem conseguir encontrar algum tipo de fórmula que recupere o futebol apresentado pelo time no começo do campeonato. Falta motivação, falta poder de finalização, falta uma defesa segura, falta comprometimento político, e toda sorte de abstrações insondáveis que sempre se usam quando não há qualquer explicação lógica do que possa estar acontecendo com um time que parecia acertadíssimo e que agora se estilhaça a olhos vistos.

José Roberto Rocha Filho

terça-feira, 27 de março de 2007

Iniciando o returno...

Campinense 2 X 2 Auto Esporte. 25 de março de 2007.

Pouco me interessa, como tantos, falar da falta de competência dos atacantes do Campinense Clube, daquela quase impossível capacidade de acertar todos os pontos imagináveis da linha de fundo, descobrindo até alguns há muito tempo não apreciados pela passagem de uma bola em disparada. E é exatamente em disparada, como carros que fogem envolvidos pelo pavor de um atropelamento recente, que a bola parte tão logo arrematada por qualquer um dos atacantes do clube. Diogo, Telles, Stênio ou Júnior Ferrim, todos parecem tão fadados ao erro que mesmo quando acertam não inspiram qualquer credulidade. A inegável má fase pela qual passa o ataque do clube conseguiu fazer do gol um acidente repleto de detalhes fantasiosos, chegando às raias do feérico. Uma eventual meia dúzia de gols contra a Perilima não será capaz de fazer passar esta impressão que torna cada vez mais longo o espaço do tempo entre o choque da bola com a rede e o grito do torcedor. Os raposeiros não acreditam mais no gol. Este toma ares de seqüestro: só acontece com os outros.

(Paro aqui. Para quem começou uma crônica dizendo que não se falaria no assunto, não obtive muito sucesso. É a voz de torcedor que desperta estas contradições que fazem do primeiro parágrafo de um texto que se propõe um elogio, tal comentário desapontado sobre a principal deficiência atual do time, de uma obviedade que me envergonha um pouco.)

Na partida de domingo diante do Auto Esporte, o que mais me chamou a atenção foi a presença em campo de uma peça fundamental e cuja ausência talvez explique os fiascos do Campinense tanto na partida de volta da Copa do Brasil contra o Sport de Recife quanto diante do Sousa pelas semifinais do primeiro turno do Campeonato Paraibano: o bom meia. Lulinha e seu toque de bola se sobressaem diante da evidente falta de técnica dos jogadores que o circundam. Mesmo um par pavoroso de passes dados em um momento qualquer do segundo tempo são incapazes de fazer-nos deixar de pensar que ele joga um jogo à parte. Enquanto os demais – ao menos aqueles dignos de nota – se matam, suam, brigam, e só depois vão tratar da bola, Lulinha carrega-a com a calma de quem parece saber exatamente o que fazer, e possui as ferramentas técnicas para tanto.

A raridade de um jogador com tais características é tão patente que ao se tentar puxar pela memória alguém no passado recente do clube que as compartilhe o único nome que vem sem dificuldade é justamente o do saudoso Rodrigo Tabata. Óbvio que a elegância de Lulinha ainda não possui o garbo amplamente enérgico de Tabata, nem suas finalizações se aproximam da exatidão quase mágica daquele, mas há algo no seu porte, na sua inteligência prática, e na capacidade de simplificar situações aparentemente insolúveis, que remetem ao último grande ídolo do Campinense Clube. Fica a sensação de que Lulinha não só faz lembrar de um passado glorioso – mais ainda por ter sido frustrado da forma que foi – mas é capaz também de esboçar um futuro menos tortuoso.

José Roberto Rocha Filho

segunda-feira, 26 de março de 2007

Apresentação...

Este blog foi criado com o intuito de expor crônicas esportivas referentes ao campeonato paraibano de futebol, e às participações dos times locais em outras competições. A paixão pela crônica esportiva é recente, quase de ontem, mas ela parece estar em mim há muito mais tempo, antes mesmo que eu nascesse. Escondida há meio século entre as palavras batidas em máquina e assinadas por gente como Nelson Rodrigues e Mário Filho. Perto deles, o jornalismo esportivo atual, o paraibano em especial, é um deserto onde não corre o menor sopro de vento. Este blog e as crônicas eventualmente publicadas nele são uma tentativa de arejar esta realidade a partir dos sonhos vividos nos estádios, em frente a televisão, ou prostrado no desespero que só entendem aqueles que escutam os jogos em um rádio de pilha.

Que não se espere imparcialidade. Os textos normalmente gravitarão em torno do meu time, o Campinense Clube, no ritmo de ao menos um por semana. Um por rodada seria o ideal, mas jornalismo guerrilheiro tem que se sustentar de alguma forma que não o próprio jornalismo. Por coisas assim sempre mantive com a quase totalidade da imprensa escrita local - galeria de museu repleta de múmias preservadas e imersas na mais pura auto-indulgência - uma relação em que o asco só é comparável a dolorida inveja pelo simples fato deles ganharem para escrever. Imaginem só, ganhar para escrever! Isto sempre me causou espanto. Por vezes eu me imagino mumificado, também, em uma redação qualquer. Tal desejo dura apenas o tempo do abrir de páginas de um jornal qualquer e a leitura das colunas esportivas semanais. O que fica depois disso é apenas a boba incompreensão, e por vezes a raiva declarada, de um nostálgico de um tempo que nunca viveu. Aquele do jornalismo romântico que talvez nem sequer tenha existido de verdade, ou mesmo de mentira.

Esta página não é uma tentativa de recuperá-lo - sonhos não se recuperam, sonhos se sonham -, mas apenas o esforço de apresentar uma alternativa diante do panorama atual das coisas. Espero que vocês leiam e comentem sempre que possível.